LITERATURA SURDA, O QUE É?
Desde
cedo, crianças ouvintes convivem com histórias infantis que ouvem, que lhe são
lidas ou entra em contato auditivamente. É neste aspecto que cabe questionar a
respeito da criança surda neste contexto. Como auxilia-las a entrarem neste
mundo da fantasia e da imaginação? É difícil, por inúmeros motivos,
encontrarem-se obras literárias que registrem o cotidiano de pessoas surdas ou
que narrem experiências e aspectos culturais da surdez.
Acerca
da definição de Literatura Surda Karnopp (2010) diz que: “Literatura surda é a
produção de textos literários em sinais, que traduz a experiência visual, que
entende a surdez como presença de algo e não como falta, que possibilita outras
representações de surdos e que considera as pessoas surdas como um grupo
linguístico e cultural diferente” (p.161).
A
autora ainda explica que a cultura surda, a experiência visual e a língua de
sinais é o que sustenta o encontro e a vida da comunidade surda, sendo que uma
das diferenças entre a comunidade surda de outras comunidades linguísticas é
que não estão geograficamente em uma mesma localidade, mas estão espalhados em
várias partes do mundo. O local de trabalho, de lazer e a convivência não são
comuns apenas para surdos, além disso, o encontro surdo-surdo pode não ocorrer
constantemente, o que dificulta a proximidade. Assim, existem associações de
surdos, onde são realizadas atividades conjuntas, escolas para surdos e locais
de encontro, mantendo viça a cultura surda.
Neste
contexto a língua de sinais constitui-se como o elo da comunidade surda, seu
uso possibilita a produção de histórias, poemas, piadas, contos, fábulas,
clássicos, romances, lendas e outras manifestações culturais que vão passando
por várias gerações. Assim, a Literatura Surda está também relacionada com a
cultura surda, pois nela são frequentemente relatada a vida dos próprios
surdos, suas lutas e desafios diante de uma maioria ouvinte; nas piadas
utilizam-se personagens surdos e ouvintes apresentando diversos conflitos do
dia-a-dia; as fábulas e histórias são adaptadas ou criadas focando os
personagens como sendo surdos; nos poemas utiliza-se de muitos classificadores.
Rosa
e Klein (2009) explicam que “a literatura sinalizada é uma expressão artística
dos surdos registrados através de vídeos e a divulgação desse material em
língua de sinais mostra o enfoque de uma diferença cultural, que é própria dos
surdos.” (p. 2-3).
É
importante considerar que a impossibilidade do domínio da leitura em português
pelo surdo não se dá pelo fato de o mesmo ser incapaz disso, mas sim devido às
práticas desenvolvidas que não lhe possibilitam isso. As práticas pedagógicas
ao longo do tempo não consideraram o fato de a língua portuguesa ser a segunda
língua para o surdo e consequentemente as metodologias foram inadequadas.
(FERNADES, 1999).
Rosa
e Klein (2009) explicam que os surdos percebem e captam as informações através
dos olhos, do visual. Para um conto de história ser produtivo para crianças
surdas é necessário que esta história seja contada em Libras. Porém se a
história apresentar uma narrativa que gira em torno da cultura ouvinte, será
interessante além da tradução para Libras a adaptação para a cultura surda
então teremos uma Literatura Surda com todos os artifícios como expressões
faciais e corporais, classificadores, ilustrações que tocarão o emocional e a
imaginação da criança e a percepção quanto a expressão da cultura e identidade
surda.
Acerca
dos materiais que abordam a Literatura Surda Quadros (2006) refere que são
fundamentais no processo de alfabetização da criança surda, pois “A produção de
contadores de histórias naturais, de histórias espontâneas e de contos que
passam de geração em geração são exemplos de literatura em sinais que precisam
fazer parte do processo de alfabetização de crianças surdas”.